Gênero

Pelas nossas monas, manas, minas e manos – por uma revolução diária contra a LGBTQIAfobia

O dia 17 de Maio de 1990 marca um acontecimento histórico no campo institucional no que se refere ao tratamentos das pessoas gays e lésbicas especialmente: a OMS nesse ano, retira a homossexualidade da lista de distúrbios mentais, marcando assim o fim de um século que aperfeiçoou todas as formas possíveis de patologizar e padronizar a população de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Intersexos e Assexuais, bem como outras identidades políticas que neste espaço histórico também ganham proporções orgânicas maiores, em termos de ações coletivas e relações internacionais.

Mas, o que esta data nos propõe em seu sentido mais profundo? É sabido que, dentro da sociabilidade institucional e capitalista que sobrevivemos, as marcas que o patriarcado e paternalismo insistem em sustentar, são acionadas através de uma articulação falocrática, misógina e machista. O heteroterrorismo surge como uma manobra condensada na produção de um polo que afina as normas do que é ser homem e mulher, na defesa de um status quo de privilégios e falsa lógica de moral e “bem-estar” social. Para isso, a expulsão, marginalização e assassinatos de todas as formas de expressão do ser que não estejam sob o magnetismo desse polo se faz necessária para estas permanências, para este conservadorismo.

Com isso, a população LGBTQIA é expulsa de toda a convivência e acessos cotidianos quando suas expressões são vistas e sentidas pela desumanidade. As casas recusam, os espaços religiosos fecham os olhos ou padronizam, a vizinhança rechaça, a escola negligencia e oculta e o ciclo de desvalorização e ânsia social vai fechando o cerco. E, quando falamos de acessos e possibilidades de vida, falamos de uma vida digna, uma vida que em sua existência, não pense apenas em qual será o próximo tiro, facada, paulada, lampadada ou cuspida que vai receber em seus sonhos, em sua dignidade.

Portanto, é impossível apresentar estes elementos dissociados de uma luta classista, antirracista e das periferias do mundo. São elementos encarnados, que, se acentuam com as disposições históricas de classe e raça. Infelizmente, para dialogar com esta afirmativa, basta a gente olhar para as órbitas e guetos sociais que veremos ainda as pistas abarrotadas de pessoas trans, jovens afeminados, travestis que em sua circulação na luta por vida digna, foram aleijadas nesse processo, restando alguns espaços sub-humanos para “aparecerem”, trabalharem e exercerem quem são. São majoritariamente negras e pobres que estão nestas margens.

Não diferente, são os dados de 2018 do relatório realizado por 3 grandes grupos e coletivos de diversidade do país que, ao longo de mais de 5 décadas, perceberam que, as mortes contra essa população motivadas pela “simples existência do outro” aumentaram os assassinatos que ocorrem a cada 16h no país. E, o que não é mais uma novidade, são de pessoas majoritariamente pobres e negras que além de fragilizadas pelo processo de embrutecimento social, são flageladas literalmente, e que a sociedade assume um discurso sob estes casos de “naturalidade” e passividade de forma mais acentuada, principalmente quando o Estado adornado de toda a desumanidade, possui além da tradição paternalista internalizada a democracia burguesa e seus representantes com os requintes de sadismo necessários para que estas vidas continuem sendo ceifadas, bem como o ódio seja considerado opinião divergente, e não sentimento de repulsa por alguns.

Nesta conjuntura amorfa e contraditória que vivemos, nós, da Coordenação Anarquista Brasileira – CAB, reafirmamos nosso compromisso de denunciar e combater todos grupos e ações de caráter lgbtqiafóbico. Nossas ações formativas de base devem promover o autocuidado, o apoio mútuo a solidariedade à coletivos combativos de diversidade e a promover a formação para a autodefesa e educação daquelas que resistem. A barricada só está completa quando nossa artilharia resulta em ação direta pela vida dos oprimidos.

Avante!

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