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Durante a pandemia do coronavírus, segue o terrorismo de Estado nas favelas

Em meio à brutal pandemia do novo coronavírus que aflige o Brasil, as favelas e periferias brasileiras sofrem o ataque de outro vírus: o do terrorismo de Estado brasileiro. No Rio de Janeiro, há mais de 760 favelas, local de residência de muitos trabalhadores e trabalhadoras e, em grande parte, lugares de maioria Preta.

O racismo estrutural brasileiro, marcado pela chaga da escravidão, formou o Estado brasileiro, não apenas como um órgão de manutenção do sistema de exploração de trabalhadores, mas também como uma instituição de colonialismo interno, de controle das “classes perigosas”. A burguesia brasileira é periférica e dependente, mas se estruturou internamente, em suas instâncias de dominação e violência de classe, como grupos sociais que precisam manter o racismo estrutural funcionando. É por essa lógica política, herdada da nossa história de violência e racismo, que as classes dominantes brasileiras seguem com o funcionamento e manutenção do racismo estrutural brasileiro e sua face mais bárbara: o genocídio do povo Preto e periférica. Tais formas de violência independem do governo, pois são uma política de Estado. Não houve nenhum governo deste país, seja da centro-esquerda petista ou da extrema-direita bolsonarista, que tenha paralisado este processo. Mesmo se quisessem, não podem fazê-lo, pois fazê-lo, seria construir uma opção radical de confronto com as forças dessa ordem burguesa. E nisto, nem o reformismo parlamentar de esquerda, nem o bolsonarismo de direita podem (ou querem) fazer.

Os territórios de maioria Preta são assim, assolados constantemente pela ação violenta e de extermínio das polícias militares, federais e civis, fortalecendo a supremacia branca, a opressão de classe e o racismo.

Somente durante a pandemia, tivemos pelo menos uma chacina realizada pelo Polícia Militar e Polícia Civil no Complexo do Alemão que deixou 13 mortos em apenas um dia de operação, o assassinato de Iago César em Acari, o assassinato de João Victor na Cidade de Deus durante um tiroteio que interrompeu uma ação de solidariedade de entrega de cestas básicas, o assassinato de Rodrigo Cerqueira no Morro da Providência e o assassinato de João Pedro, de 14 anos, morto no Complexo do Salgueiro em São Gonçalo em uma operação conjunta da Polícia Federal. João Pedro foi a quarta criança assassinada em tiroteios com participação da polícia no decorrer de 1 ano. Ele se junta à Ágatha Félix (Complexo do Alemão), de 8 anos, Kauê Ribeiro dos Santos (Chapadão), de 12 anos, Kauan Rosário (Bangu), de 11 anos. Diferentes nomes, mas um denominador comum: todas crianças Pretas.

João Pedro estava em casa com amigos e primos quando a polícia invadiu a casa atirando durante uma operação. Foram contadas 72 marcas de tiros nas paredes do local onde João Pedro estava. Ou seja, mesmo durante a pandemia, nem dentro de casa o povo Preto está seguro, pois a polícia pode invadir e matar a qualquer momento. É difícil imaginar a polícia entrando atirando numa casa em Copacabana, seja na situação que for. Isso só acontece em localidades de maioria Preta, onde a polícia tem carta branca pra matar.

O genocídio do povo Preto é cruel: quando não está matando a balas a juventude Preta, está matando nas filas de pedido de auxílio emergencial, está matando nos caixas de supermercados, está matando no transporte público lotado, está matando na fila do SUS. Com os brancos ocupando a maior parte dos cargos de trabalho com possibilidade de home office, o povo Preto está diariamente na rua se arriscando pra entregar a comida dos brancos. E mesmo quando há possibilidade de ficar em casa, a polícia pode entrar atirando.

As favelas do Rio de Janeiro somam mais mortes por covid-19 do que 15 estados do país [1]. Foram 174 óbitos registrados em 13 comunidades da cidade do Rio de Janeiro. Os 15 estados com menor número de óbitos, somam juntos, 170 mortes. Sabemos no entanto, que esses casos estão subnotificados e os números podem ser ainda maiores. A falta de saneamento básico (água, esgoto), estrutura e apoio material do Estado brasileiro, faz parte desse projeto de violência racista e de classe, que naturaliza e aprofunda a desigualdade social. Esse necroprojeto burguês, branco e racista, fica ilustrado cada vez mais na conjuntura, com a manutenção das operações policiais.

Enquanto os moradores de favela se auto-organizam para tentar dar conta de suas necessidades, o governo genocida de Witzel reclama e mente, dizendo que não há dinheiro para a saúde, as operações policiais seguem como uma marcha fúnebre, assassinando Pretos, pobres e jovens, mesmo durante a pandemia decoronavírus.

Que as classes oprimidas e o povo não esqueçam da ação de barbárie cometida pelo governo federal e estadual contra os mais pobres, Pretos e moradores de favela. Apenas a organização, fortalecimento e radicalização dos movimentos populares, contra o capitalismo, pelo fim das polícias e operações militares nas favelas, contra o Estado e o racismo estrutural brasileiro, podem interromper o genocídio brutal, orquestrado pelas elites políticas e racistas brasileiras.

Contra o genocídio do povo Preto, nenhum passo atrás!

[1] https://www.todapalavra.info/post/favelas-do-rio-têm-mais-mortes-por-covid-que-15-estados?fbclid=IwAR06OXd-ikvOfI2fmP7jvr0DN7teqQwIY7_rxMo4rEntdhjhHtpXZtMKpHs

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