MemóriaSindical

Cecílio Vilar vive!

Nesse momento em que a pandemia do coronavírus toca o mundo e mexe profundamente em nossas vidas pela curva sinistra de suas vítimas, iremos lembrar do companheiro Cecílio Vilar. Vamos recordar e pôr na ordem do dia a luta anticapitalista e libertária que une o passado e o presente nesta conjuntura trágica que nos invade.

Henrique Martins, vulgo Cecílio Vilar, era o mais velho de uma família operária que pode ser considerada como uma raiz forte do anarquismo na região sul do país. Um núcleo que teve o protagonismo das irmãs Martins. Entre elas, a jovem Espertirina, que carregava o buquê misterioso que revidou os carrascos do movimento grevista de 1917. Estava também o companheiro Nino, um tipo das batalhas, dos petardos e sabotagens, que lutou sem fronteiras na semana trágica argentina, quando foi apanhado pelo governo e devorado no inferno da Clevelândia na década de 20.

Cecílio pertence a uma geração de anarquistas nativos, criados e formados no interior do Rio Grande do Sul. Estudou com seus irmãos e aprendeu liberdade pelas aulas da professora Malvina Tavares, uma livre-pensadora de sua época. Tomou seu posto de vida e de luta no mundo do trabalho, como operário tipográfico dos bons.

Associado com outros companheiros, desenvolveu em 1909 o grupo Solidário, uma tendência libertária na categoria dos gráficos. Fundou a União Tipográfica. Trabalhou em lugares de referência do seu ofício, como as oficinas do Jornal do Comércio ou como tipógrafo do Correio do Povo. Por força de perseguição judicial se mandou para o Rio de Janeiro, onde foi igualmente um ativo organizador classista no tempo que passou por lá. Empregou suas capacidades na FORJ (Federação Operária do Rio de Janeiro) e na COB (Confederação Operária Brasileira). Respeitado em todo o movimento operário, lhe foi confiado a delegação da Federação Operária de Alagoas no 2° congresso operário brasileiro. Com toda certeza falamos de um quadro nacional do anarquismo. Quando voltou para o sul, atuou no projeto da escola Moderna, no sindicalismo de ação direta e em diferentes periódicos libertários. Esteve na linha de frente da histórica greve geral de 1917 que parou Porto Alegre por 5 dias. Orador escolhido para o comício da praça da Alfândega, afirmava que o movimento operário estava moldado pela tempo da luta, e não pela conciliação.

Aqueles dias terríveis de gripe “espanhola”, que até pouco tempo era um assunto considerado do passado, voltaram a ser lembrados, e junto a eles as angústias e incertezas que impõe a pandemia do nosso século, o Covid 19. É do humano reagir e processar com exemplos, casos e comparações, o impacto que pode causar a peste que domina nosso mundo novamente.
Em 1918, a militância da FORGS (Federação Operária do Rio Grande do Sul) atuava ombro a ombro com a classe operária e se engajava em campanhas solidárias para mitigar a fome e o sofrimento popular causada pela gripe “espanhola”. E Cecílio Vilar, nosso querido combatente do socialismo libertário foi pego pela peste e não teve saúde pra aguentar o seu golpe mortal. Faleceu muito jovem, em Passo Fundo, com 30 anos de idade. A mesma cidade do interior que estampa hoje no Rio Grande do Sul a ganância feroz dos patrões que nos chantageiam com a fome e com a doença da necropolítica que governa as classes de baixo.

Os operários da indústria da carne na região de Passo Fundo, da planta da BRF em Marau e Serafina Corrêa, foram ameaçados e obrigados a trabalhar doentes. O que resultou na contaminação de colegas de trabalho e familiares. A região tem alta incidência de Covid 19, devido as taxas de casos e óbitos que são proporcionais à sua população, e sente as dolorosas perdas de entes queridos provocadas pela política criminal do sistema que sempre corta mais fundo no andar de baixo. Os patrões sobem no barco enquanto a classe trabalhadora e os setores mais populares se afogam na enchente e na tempestade.

Os donos da economia que empurram a classe trabalhadora para a insalubridade e a vala comum dos óbitos do covid 19. Sabotadores da saúde pública. Carniceiros que põem o seu lucro acima da vida do povo. Que nunca aceitam perder o poder e a riqueza de suas propriedades pelo bem comum. É contra eles que lutamos!

Nuca te esqueceremos, companheiro!
Pela coletivização das riquezas e apoio mútuo pra mudar a vida!
Cecílio Vilar vive na luta anticapitalista de ontem, de hoje e de sempre!!

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