Memória

156 anos do nascimento de Fábio Luz

Há 156 anos, em 31 de julho de 1864, nascia em Valença, Bahia, Fábio Lopes dos Santos Luz ou simplesmente Fábio Luz. Ele foi médico, jornalista, escritor e professor e faleceu a 9 de maio de 1938 no Rio de Janeiro, sendo um dos mais destacados militantes na história do movimento anarquista na cidade.

Filho de um funcionário público e de uma professora, já na juventude indignou-se ao ver o pai registrar a venda de escravos e com a violência de policiais negros contra outros negros escravos. Tornou-se, então, abolicionista e, logo em seguida, republicano, pois acreditava que a república levaria a uma situação de justiça social. Durante seu curso de medicina, descobriu, em uma livraria de Salvador, o livro Palavras de um Revoltado de Kropotkin, o que o levou ao anarquismo. No entanto, Fábio Luz só viria a descobrir a existência do anarquismo organizado no Rio de Janeiro no início do século XX.

Sua mudança para a então ainda capital do Império ocorreu em 1888, logo após sua formatura em medicina, quando defendeu a tese Hipnotismo e Livre Arbítrio, considerada por alguns como precursora das teorias psicanalíticas. Exercendo as funções de médico higienista e, a partir de 1893, as de inspetor escolar, Fábio Luz entra em contato com os graves problemas sociais da população carioca. Por volta de 1902, com um grupo de intelectuais que se junta ao movimento anarquista, passa a fazer propaganda em portas de fábricas e locais operários. Em 1903, lança o romance O Ideólogo, produto desta convivência com os oprimidos da cidade, tornando-se um dos precursores do romance social no Brasil, juntamente com o escritor mineiro e também anarquista Avelino Foscolo.

Em 1904, Fábio Luz é dos que lutam pelo estabelecimento de uma Universidade Popular de Ensino Livre de que será professor e onde manterá consultório médico para atendimento aos alunos daquela iniciativa educacional. Em seu exercício da medicina ele também manterá consultório no Méier, onde reside e onde, atualmente, há uma rua com seu nome, pelo qual será conhecido pelos pobres do bairro, do Engenho Novo e de outros subúrbios como um médico que os examina gratuitamente e ainda lhes fornece dinheiro para a compra de remédios. Luz promoveu campanhas a favor da higiene nas fábricas, locais de trabalho, restaurantes, bares e cafés, tendo proferido conferências e escrito nos jornais a respeito, como o folheto A Tuberculose do Ponto de Vista Social, de 1913, em que mostra como as condições de trabalho insalubres por descaso dos capitalistas levam à proliferação daquela doença entre os trabalhadores. Ainda em sua própria casa, Luz ministrará, informalmente, curso de idiomas a operários para que estes possam ter acesso a obras de alcance sociológico e cultural impressas em outras línguas.

1906 é o ano da publicação de outro romance seu, Os Emancipados, que dará nome a um importante grupo anarquista a que ele estará filiado. Sua atividade como conferencista será enorme nos sindicatos livres e eventos operários durante toda a sua existência. Em 1915, a publicação de Elias Barrão o consagra como escritor social. Porém, Luz também envereda pela literatura infantil escrevendo livros como Memórias de Joãozinho e Leituras de Ilka e Alba em que procura passar valores éticos e sociais às crianças.

Como professor, lecionou no Colégio Pedro II (francês, português, história e latim). Em colégios e centros de estudos sociais ensinou História do Brasil, História Natural e Higiene. Dirigiu o Ateneu, depois Liceu Popular de Inhaúma e foi professor de Artes e Ofícios na Escola Orsina da Fonseca.

Em 1920, sua colaboração no jornal anarquista diário Voz do Povo levou-o à prisão, após a invasão e o empastelamento daquela publicação pela polícia. Tal fato motivou a reorganização do grupo Os Emancipados. Secretário-Geral do recém-fundado PCB, Astrojildo Pereira tenta ridicularizar a figura de Fábio Luz, ao que este responde “às infantilidades do sr. Astrojildo” que “nosso ditador já exerce as funções de um pontífice bolchevista religioso; assim é que, inspirado pelos divinos poderes bolchevistas, nomeia bispos e cria igrejinhas”. Em 1922, ano desta polêmica com Astrojido, Luz estará à frente dos jornais anarquistas Luta Social e Revolução Social. Como jornalista, além da imprensa anarquista do Brasil e de outros países, colaborou também na imprensa comercial, tendo exercido as funções de crítico literário, sendo seus artigos recolhidos em diversos livros como A Paisagem no Conto, na Novela e no Romance (1922), Estudos de Literatura (1927),Ensaios (1930) e Dioramas (1934).

Em homenagem a este lutador social, tão injustamente esquecido pela historiografia oficial e literária, seu nome foi colocado, em 2001, em uma mais do que merecida homenagem, à Biblioteca Social que funciona no Centro de Cultura Social do Rio de Janeiro, à rua Torres Homem 790, em Vila Isabel. Fábio Luz também foi homenageado como nome de uma rua no bairro do Méier, Zona Norte do Rio de Janeiro.

(Adaptação de texto publicado, originalmente, no informativo Libera #140 da Federação Anarquista do Rio de Janeiro (FARJ), em 2008)

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