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[CALA] Declaração – Viva a luta do povo boliviano

Novamente o povo boliviano prova sua dignidade e combatividade implacáveis. Após o golpe de Estado de outubro de 2019 e a instalação da brutal ditadura liderada por Jeannine Añez, a resistência popular continua. Bloqueios de estradas –tática de luta histórica do povo boliviano –, marchas partindo de distintos pontos do país até a cidade de La Paz, diversas manifestações em cada localidade, a imponente mobilização em El Alto e a conformação de organismos que reúnem todas as organizações sociais em luta, marcam a decisão deste povo de derrotar a ditadura.

Essas lutas não começaram hoje. Remontam à época da Guerra da Água e do Gás, na qual derrubaram governos neoliberais. Também vêm da resistência ao recente golpe de Estado, quando o então presidente Evo Morales e a cúpula do MAS decidiram renunciar para “evitar derramamento de sangue”. Foi justamente esse povo que teve seus mortos, enquanto os reformistas cederam diante da direita racista e fascista, que impunha a Bíblia e pisoteava a Whipala e os direitos indígenas. É um golpe de Estado e de classe: é a burguesia e a oligarquia branca que retoma o controle do Estado, com um forte discurso de ódio contra os indígenas. Podemos muito bem dizer que voltaram os conquistadores –ou seus descendentes. Agora,com total apoio dos Estados Unidos,que, entre outras coisas, tem claros interesses no controle das plantações de folhas de coca para o narcotráfico.

Diante deste ataque, o povo boliviano não se escondeu nem se rendeu, nem traiu: seguiu nas ruas, mesmo sob uma pandemia. E hoje,novamente, quando se tenta perpetuar a ditadura, o povo em luta redobra seus esforços e coloca nas ruas e estradas do país o conjunto de classes oprimidas. E,como se pode ver em todos os informes que chegam desde a Bolívia, esse povo oprimido tem a clareza e a certeza de que é preciso derrubar essa ditadura e abrir um caminho próprio.

É verdade que a reivindicação são as eleições, que se fixe imediatamente uma data. Os prazos parecem andar e são tratados a critério do governo, enquanto vai negociando com a cúpula do MAS, de quem só se pode esperar que negocie com a ditadura. O povo em luta não vai tolerar que a convocação se prolongue no tempo, articulando essas reivindicações com outras propostas que vão muito além das eleições.

Para nós, anarquistas especifistas, partidários da organização política do Anarquismo e do desenvolvimento de um genuíno processo de construção do Poder Popular, as eleições só servem à burguesia e suas instituições, especialmente ao Estado. Reforçam o poder de uma classe sobre a outra. E o caso boliviano demonstra claramente as limitações do acesso a governos por parte das forças progressistas: não tocaram –nem podem tocar –um só pilar dos interesses das classes dominantes bolivianas, não ocorreram transformações estruturais, tanto que em poucos dias se deu um golpe com o total apoio da polícia e das Forças Armadas, duas instituições guardiãs da ordem burguesa.

Mas,nesse caso,é uma reivindicação mobilizadora diante de uma ditadura, em que o mais importante, o central, é o povo estar nas ruas tomando em suas mãos seu destino, em defesa de seus interesses de classe e de identidade como povos originários e oprimidos. É hora de apoiar a luta do povo boliviano e impulsionar a radicalização de suas reivindicações, avançando para além da demanda específica por eleições, em direção a um maior protagonismo popular orientado para a construção do poder popular.

É esse mesmo povo boliviano, que protagonizou a revolução de 1952 com suas milícias armadas, que derrubou inúmeros governos, que fez levantes populares de todo tipo, que vem resistindo há séculos, que vai derrubar essa ditadura fascista e racista e marcará seu próprio caminho de luta e liberdade.

VIVA O POVO BOLIVIANO!
SÓ O POVO SALVARÁ O POVO!
ARRIBA LOS/AS QUE LUCHAN!

FEDERAÇÃO ANARQUISTA URUGUAIA (FAU)
COORDENAÇÃO ANARQUISTA BRASILEIRA (CAB)
FEDERAÇÃO ANARQUISTA ROSÁRIO (FAR)
COORDENAÇÃO ANARQUISTA LATINO-AMERICANA (CALA)

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