Conjuntura

Bolsonaro representa a vontade popular?

Enquanto os de cima brigam entre si pra ver quem assume as rédeas do Estado, nosso povo preto e pobre é assassinado nas favelas, enfrenta filas lotadas pra receber o auxílio emergencial (quando recebe!) e segue arriscando sua saúde saindo pra trabalhar porque não há outra opção.

Mas, apesar de nenhum lado dessa briga estar a nosso favor, o fortalecimento do governo Bolsonaro é péssimo para os de baixo.

Antes de continuar, queremos deixar algo bem nítido: não defendemos o STF, instituição do direito burguês que forma parte da engrenagem desse sistema que nos domina, nem achamos que defender as liberdades de expressão, de organização e de mobilização se traduza em defender as ditas instituições “democráticas” (judiciário, legislativo e executivo). Elas são instituições de controle e não condições para a realização dessas liberdades.

No entanto, Bolsonaro está longe de representar a vontade popular. O seu discurso pode até falar de povo. Mas a sua prática não beneficia o nosso povo. Ou o povo que sai da boca de Bolsonaro não é aquele que sobrevive do suor do seu trabalho e é só discurso fajuto ou ele mente descaradamente. Nossa opinião é que é tudo isso e mais um pouco.

Ele opõe Forças Armadas ao Legislativo e Judiciário, quando ambas são parte de um mesmo sistema de dominação. Que elas atuem em condições de democracia formal burguesa ou que alguma se fortaleça em regime ditatorial as custas das outras é questão de correlação de forças, de quem tem mais poder em uma relação que é de forças. Dizer que os militares irão limpar as instituições da corrupção e da roubalheira é tão falso quanto achar que elas podem ser melhoradas e aperfeiçoadas no marco do sistema capitalista.

Bolsonaro representa um projeto de poder de maior centralização política, ou seja, menos espaço para a participação popular nos assuntos que nos atingem diretamente. Representa homogeneidade e pensamento único em matéria religiosa, afetiva e étnica; ou seja, vai contra a diversidade étnica, cultural e religiosa dos povos que vivem nos limites territoriais impostos pelo Estado brasileiro.

A vontade popular de Bolsonaro é a vontade militarista de que os de baixo se curvem sem reclamar às decisões dos de cima e recebam a devida correção caso ousem se rebelar. É a cabeça baixa frente a uma visão de mundo branca, ocidental e autoritária tornada visão de Estado e imposta como a mais certa e a única aceitável.

Somos contra Bolsonaro por isso e não porque defendemos uma democracia sem adjetivos ou porque acreditamos em idealismos como o de vencer o fascismo pelas urnas. A democracia que defendemos é a direta, e se lutamos contra esse governo é porque acreditamos e lutamos todos os dias para que as liberdades de organização e de manifestação do nosso povo sejam radicalizadas a ponto de que sejamos nós oprimidos e oprimidas os e as responsáveis diretos pela gestão econômica e política de nossas vidas, sem governos nem patrões.

Se essa é nossa aposta, consequente deve ser a nossa caminhada. E não há outra via que aquela representada por PARTICIPAÇÃO, ORGANIZAÇÃO e PODER POPULAR. Participar nos assuntos que afetam nossas vidas, se organizar para decidir coletivamente sobre eles e poder pra defender nossas conquistas, nossas vidas, nossas riquezas. Nossas, das classes oprimidas!

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